terça-feira, 9 de outubro de 2007

Um Outro Pavão Misterioso (cordel de Guilherme de Faria)



Um outro Pavão Misterioso
(cordel de Guilherme de Faria)
Ouç’ agora minha gente
uma estória de chorar.
Não verá mais comovente
o povo deste lugar.
Foi no começo do reino
desta terra do sertão.
Uma moça tão bonita
que igual se viu mais não.
Não era princesa de sorte
mas era de condição.
Por ela comanda a Morte
sete guerras no sertão.
Morreu gado, morreu gente
fazenda mudou de mão.
Mudou o rumo do mundo
só o seu não mudou não.
Essa moça tão formosa
vivia pro coração.
Já estava tão famosa
que produzia canção
Seu pai era um rei da terra
De couraça de gibão
homem afeito à guerra
mas no fundo um home bão
.
Pra sua filha doçura
palácio de maravilha
montanha de rapadura
açude de groselhão.
Não adiantou a ternura
Não muda o querer da gente
o fado ruim do vivente
malgrado sua sinecura
Estava escrito que Creusa
esse o nome da princesa,
conquanto fosse uma deusa
fadada a muita tristeza
por conta de um moço pobre
Esse engenhoso José
Embora engenho lhe sobre
competindo estava a pé
c’o filho do coronel
que vivia arrodeando
a princesa cobiçando
feito uma mosca no mel
Então fez um avejão
todo de ferro e de aço
com o tipo de um pavão
movido à força e cansaço.
E com esse estratagema
por cima deste sertão
com aqueles olhos de gema
linda cauda do pavão
O povo vendo voar
aquele estranho avejão
acreditava chegar
a redenção do sertão.
Recuperada seria a Fé
sem aquela punição
do dilúvio de Noé
em arca de embarcação
Sem a rola e o corvo
sem casal de hienas risonhas
que são do leão estorvo
naquelas disputas medonhas
O verde que ia voltar
traria o prazer da vida
pro povo daquele lugar.
com muita água e comida.
Mas, ai, que a sorte fatal
não deixa um gosto vingar.
Já se armara o seu rival
com canhão de militar,
ao saber que o moço, a bela
já lhe tinha raptado
por expresso gosto dela
que se tinha apaixonado.
Voavam pois abraçado
por cima desta caatinga
quando fogo cerrado
partiu da seca restinga
formando nuvem vermelha
em volta do avejão
que já voava de esguelha
Com nostalgia de chão
Tentou lupim e parafuso
os recursos de avião
mas nessa teia o fuso
o fado é que tem na mão.
Caiu por terra o casal.
Caiu por terra o pavão.
Caiu pra sempre o ideal
de haver chuva no sertão.
FIM















quinta-feira, 4 de outubro de 2007


A viagem do Pavão Misterioso- óleo s/ tela, de 80x100cm de Guilherme de Faria, coleção particular, São Paulo.