sexta-feira, 12 de junho de 2009

Soneto português de devoção (de Guilherme de Faria)


Para Alma Welt

Apesar de não gostar muito de guerra
Por Joana D’Arc tenho grande devoção,
Me perdoem os ingleses e a Inglaterra
Que queimaram esta guerreira em Ruão.

Por outro lado, detestando os alcagüetes
Tenho certa pena do infeliz
Do escolhido e pobre Iscariotes
Que não virou maldito porque quis.

Mas uma heroína que me encanta
É a Maria, a melhor das Madalenas
Que quando puta pra mim já era santa.

E entre todos os bons heróis covardes
Gosto mais de São Pedro e suas penas
De galos triplos, orelhas e quo vadis...

12/06/2009

* galos triplos- alusão ao galo que cantou tres vezes quando São Pedro por covardia renegou o Cristo já aprisionado, quando lhe perguntaram se o conhecia.

* orelhas-
alusão ao episódio de São Pedro cortando a orelha de um dos soldado que vieram acompanhando os sacerdotes do templo para prender Cristo no Horto das Oliveiras.

*... quo vadis- Para quem não sabe, Cristo, depois de morto apareceu na Via Apia caminhando em direção a Roma quando São Pedro se afastava da cidade por essa estrada a conselho de seus discípulos que estavam sendo presos e martirisados no Coliseu a mando de Nero. O apóstolo teria perguntado então ao Cristo: Quo vadis, Domine? (Aonde vais, senhor?). E Jesus respondeu: "Estou indo a Roma para ser novamente crucificado, visto que abandonas meu rebanho". Então São Pedro virou-se e voltou à Roma, onde logo nos portões foi preso e em seguida crucificado de cabeça para baixo a seu próprio pedido. Na verdade esta estória não está nos Evangelhos e pertence a uma tradição oral que foi divulgada literariamente pelo polonês Henrik Sinkiewsky no seu magnífico romance histórico Quo Vadis, transformado em filme por Hollywood nos anos 50, com Peter Ustinov no papel de Nero. Alma Welt amava este romance e escreveu um fascinante soneto (O Quo Vadis da Alma) inspirado no episódio de Ligia, a heroína cristã do romance, amarrada nua às costas de um touro, no Coliseu, sendo salva pelo gigantesco Ursus, seu fiel servidor germânico. Entretanto, temo que explicando tanto eu tenha tirado toda suposta graça do meu soneto (rss)