terça-feira, 4 de novembro de 2008
Romance do Tropeiro (cordel de Guilherme de Faria )
Romance do Tropeiro
(cordel de Guilherme de Faria)
1
Esta é a estória de um tropeiro
Chamado Salustiano
Que moço, mas não lampeiro,
Morreu não faz nem um ano.
2
De toda a sua curta vida
Só sobrou um episódio,
Que na andança de sua lida
Nunca conheceu o ódio,
3
Percorrendo esta chapada
Que ainda não tinha estrada
E contou-me com candura
Sua estúrdia aventura.
4
Levava uma tropa de mula
Para vender em Cercado
Por inteiro ou no picado
Pr’um tal de sêo Abdula
5
Mas eis que encontrou então
No meio dessa caatinga
Um tipo de um barbudão
Cercado de urubutinga.
6
Vestia um camisolão
E andava c’um cajado
Tangendo neste sertão
Todo um invisíve gado
7
Os óio meio encovado
Pediu um pouco de água
A boca como uma cova,
A goela como uma frágua.
8
Sendo moço destemido
O nosso Salustiano
Não fez de desentendido
E nem lhe apontou um cano
9
Viu que era um louco de Deus
Coisa comum no Sertão
Entanto que sua visão
Tava mais para um adeus.
10
Estendeu-lhe a caneca
E pegando o seu odre
Encheu a dose do pobre
Como o tributo da seca.
11
Mas eis que o peregrino
Revelou seu desatino
Derramando sua porção
Todinha naquele chão.
12
A terra dura engoliu
Sem deixar nenhum vestígio
Que o sol batia de rijo
E o pó fez que nem viu
13
O tropeiro deu um pulo
Gritando Afe! Ó xente!
E picando o seu mulo
Só tratou de andar pra frente.
14
Encontrou bem lá pr’ adiante
Um menino e então parou
Que pediu água e imitou
O gesto do viandante.
15
Só deixando indignado
Pra que um tropeiro afugente
Jurando ter terminado
Seu trato co’aquela gente.
16
O tropeiro se afastou
Daquele pobre estrupício
E para trás nem olhou
Pra não lembrar do esperdício.
17
Eis que bem mais pra frente
Lá onde o sol bate rijo
Que nunca lá se viu gente
Que desperdiçasse mijo
18
Avistou ao longe um vulto
Diferente, de verdade.
Pondo a mão como uma aba
Definiu uma beldade
19
Tão espantosa e fatal
Que beleza no Sertão
Só no Juìzo Final
Que trará Don Sebastião
20
Mas a bela sertaneja
Quando se aproximou
Deslizou sua forma andeja
Que ele mal enxergou
21
Que só o que o moço via
Era a água da paixão
Que dos olhos lhe escorria
Que essa umedecia o chão
22
Mas a bela então passou
Sem nem deixar a certeza
De que mesmo a avistou
Nesse mar sem correnteza
23
Dessa Caatinga e da lida
Que não permite a beleza
Senão uma vez na vida
Nesta Sina sertaneja.
FIM
16/11 2002
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SEGUNDA-FEIRA, 12 DE MARÇO DE 2012
ZÉ DA HORA 101 ANOS:
O grande José da Hora:
Pura Luz vivacidade,
É um homem incomum;
Mente apurada à idade,
Conta muitas boas estórias;
Mulheres felicidade.
Zé da Hora Piauí nasceu;
Foi um grande bom tropeiro;
Andou por todo Estado,
No seu burro um cargueiro;
Sempre pensando mulheres
Assim ele viveu cresceu.
Um homem simples, mas sábio.
Aprendeu tudo na luta
Como professor o mundo
Agradece a sua labuta
Vive hoje em Brasília
Exemplo pura conduta.
Demparaso/Adão Salina
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