17/05/2006
À poetisa gaúcha Alma Welt
Trovas Pícaras II
1
No século passado
Me causava certa estafa
Ver um jeito ultrapassado
De dançar c’uma garrafa.
2
Era uma dança arriscada,
Pois de um modo meio afoito,
A guria, nesse coito
Podia ficar entalada.
3
Mas isso já tá antigo,
Foi antes da moda do umbigo
Que veio, por sua vez,
Antes da total nudez
4
Que veremos muito em breve
Pois que covinhas e pêlos
Já produzem seus desvelos
Pelas calçadas sem neve.
5
Na nossa terra estrangeira
Quase tudo se desfez,
Pois metade fala o inglês
E a outra metade, besteira.
6
Vou voltar pra Passo Fundo
Onde deixei uma “china”,
Pois a china deste mundo
Faz pastel, tem perna fina.
7
Outrora eu tive um amor
Que me ensinou a amar;
Mulher que só tem pudor
Nada consegue ensinar.
8
Por isso gosto daquelas
Que chegam tirando tudo
E uivam como cadelas,
Nada de cinema mudo.
9
Mulher assim é perfeita
E merece meus louvores;
Não regateia favores,
Não me faz essa desfeita.
10
Agora, minha audiência,
Pelos risos, gargalhadas,
Percebendo a anuência
Vou abordar as galhadas:
11
Um par frondoso de guampa,
Em geral é uma tampa
Pr’um conteúdo imundo,
Não há injustiça no mundo...
12
Por isso tome cuidado
Pois denota tua galhada
Um fracasso redobrado:
Não tens nem mulher, nem nada.
13
Esse negócio de trova
É começar e coçar
Por isso não paro, eis a prova:
Pela treze vou passar.
14
Se poder é documento
Leonardo nada seria.
Tô falando do Da Vinci,
Não do “Veni, vidi, vinci...”
15
Com dinheiro a mesma coisa:
Não chega a ter importância,
Haja visto o triste Soiza
Que não ganhou relevância
16
Nem com o seu mausoléu
Que não o levou ao céu,
Mas deixou-o sob a lousa
C’um erro: “Aqui jaz o Souza”
17
Senhorita (eu concluo)
De dançar eu tenho medo,
Porque quando danço eu suo
E quando suo eu fedo.
Trovas Picaras III
1
Amigo, peide a vontade,
Já que ocê tanto gosta:
Quem semeia tempestade
Certamente colhe bosta.
2
Se perguntam eu replico,
Pode ser um fato oco:
O Tinoco sem Tonico,
É pinico ou chapéu coco?
3
Não é que eu faça pouco
Nem tampouco dou descaso
O veínho meio rouco
Ainda é um arraso.
4
Quem dinheiro só investe,
Merece aposta ou a peste?
Quem não vive e só poupa,
Enterrem pelado, sem roupa.
5
No meu fraco entendimento
O maior gênio do mundo
É o inventor do catavento
Que se chamou Giramundo.
6
Mas a maior invenção
Não foi o motor a explosão
Mas a cama e o travesseiro
Para o sono do guerreiro.
7
Amigo, seja bem vindo
Mas deixe o rifle na porta
A faca entregue ao Benvindo,
E tire o cavalo da horta.
8
Meu amor pediu dimdim
Mas jurou fidelidade:
Pede grana só pra mim,
Pros outros é só caridade.
9
Minha sogra solta pum
Mas com tal grandiosidade,
Que teve cinqüenta mais um
Pra prefeita da cidade.
10
Tive um amigo sovina
Que me mostrou seu amor:
Deixou”valva” de latrina
Pr’ eu na minha casa por.
11
Casamento era loteria
No tempo da mocidade.
Hoje é bingo e padaria,
É “voltinha na cidade”.
12
Vou voltar pro meu Crato
Onde mulher se respeita:
Só dá mediante contrato,
Não anel na mão direita.
13
Esse contrato é antigo
No cartório e na Igreja
Exige um padre amigo
De uma roda de cerveja
14
Pois na hora da manguaça
Babau voto de sigilo,
E ocê saberá de graça
Se ela “fê-lo porque qui-lo”.
15
Tenho pena do coitado
Que no banco põe dinheiro:
É guardar frango pelado
Com a raposa do banqueiro.
16
Outrora eu tive “patroa”
E um “amigo fiel”:
Ele mostrou-se à toa
E ela não honrou seu véu.
17
Mas não lhes guardo rancor:
Polindo minha galhada
Encontrei um novo amor,
Meio feia e desdentada.
18
Pois depois da água quente,
Não quis mais gata no cio.
Preferi moça decente
E de quem nem desconfio.
19
Amor, sucesso, dinheiro;
Destes três, só no primeiro
Tu podes confiar
Se dentro em ti, o guardar.
20
Os outros dois, vêm de fora
E ocê não sabe de onde:
É como a moda, o “da hora”,
É comprar passe de bonde.
21
Quando chegar minha hora
Já não irei mais embora
Aqui ficarei porfim,
Quieto, esperando... e FIM
Um comentário:
Tomara que sua China/ ainda faça pastel? e não tenha aprendido/ a nova dança do Crel.
Olá Guilherme gostei das trovas.
Qualquer hora passo aqui novamente
Dalinha Catunda
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