sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Trovas Pícaras II e III (de Guilherme de Faria)

17/05/2006

À poetisa gaúcha Alma Welt

Trovas Pícaras II

1
No século passado
Me causava certa estafa
Ver um jeito ultrapassado
De dançar c’uma garrafa.

2
Era uma dança arriscada,
Pois de um modo meio afoito,
A guria, nesse coito
Podia ficar entalada.

3
Mas isso já tá antigo,
Foi antes da moda do umbigo
Que veio, por sua vez,
Antes da total nudez

4
Que veremos muito em breve
Pois que covinhas e pêlos
Já produzem seus desvelos
Pelas calçadas sem neve.

5
Na nossa terra estrangeira
Quase tudo se desfez,
Pois metade fala o inglês
E a outra metade, besteira.

6
Vou voltar pra Passo Fundo
Onde deixei uma “china”,
Pois a china deste mundo
Faz pastel, tem perna fina.

7
Outrora eu tive um amor
Que me ensinou a amar;
Mulher que só tem pudor
Nada consegue ensinar.

8
Por isso gosto daquelas
Que chegam tirando tudo
E uivam como cadelas,
Nada de cinema mudo.

9
Mulher assim é perfeita
E merece meus louvores;
Não regateia favores,
Não me faz essa desfeita.

10
Agora, minha audiência,
Pelos risos, gargalhadas,
Percebendo a anuência
Vou abordar as galhadas:

11
Um par frondoso de guampa,
Em geral é uma tampa
Pr’um conteúdo imundo,
Não há injustiça no mundo...

12
Por isso tome cuidado
Pois denota tua galhada
Um fracasso redobrado:
Não tens nem mulher, nem nada.

13
Esse negócio de trova
É começar e coçar
Por isso não paro, eis a prova:
Pela treze vou passar.

14
Se poder é documento
Leonardo nada seria.
Tô falando do Da Vinci,
Não do “Veni, vidi, vinci...”

15
Com dinheiro a mesma coisa:
Não chega a ter importância,
Haja visto o triste Soiza
Que não ganhou relevância

16
Nem com o seu mausoléu
Que não o levou ao céu,
Mas deixou-o sob a lousa
C’um erro: “Aqui jaz o Souza”

17
Senhorita (eu concluo)
De dançar eu tenho medo,
Porque quando danço eu suo
E quando suo eu fedo.


Trovas Picaras III


1
Amigo, peide a vontade,
Já que ocê tanto gosta:
Quem semeia tempestade
Certamente colhe bosta.

2
Se perguntam eu replico,
Pode ser um fato oco:
O Tinoco sem Tonico,
É pinico ou chapéu coco?

3
Não é que eu faça pouco
Nem tampouco dou descaso
O veínho meio rouco
Ainda é um arraso.

4
Quem dinheiro só investe,
Merece aposta ou a peste?
Quem não vive e só poupa,
Enterrem pelado, sem roupa.

5
No meu fraco entendimento
O maior gênio do mundo
É o inventor do catavento
Que se chamou Giramundo.

6
Mas a maior invenção
Não foi o motor a explosão
Mas a cama e o travesseiro
Para o sono do guerreiro.

7
Amigo, seja bem vindo
Mas deixe o rifle na porta
A faca entregue ao Benvindo,
E tire o cavalo da horta.

8
Meu amor pediu dimdim
Mas jurou fidelidade:
Pede grana só pra mim,
Pros outros é só caridade.

9
Minha sogra solta pum
Mas com tal grandiosidade,
Que teve cinqüenta mais um
Pra prefeita da cidade.

10
Tive um amigo sovina
Que me mostrou seu amor:
Deixou”valva” de latrina
Pr’ eu na minha casa por.

11
Casamento era loteria
No tempo da mocidade.
Hoje é bingo e padaria,
É “voltinha na cidade”.

12
Vou voltar pro meu Crato
Onde mulher se respeita:
Só dá mediante contrato,
Não anel na mão direita.

13
Esse contrato é antigo
No cartório e na Igreja
Exige um padre amigo
De uma roda de cerveja

14
Pois na hora da manguaça
Babau voto de sigilo,
E ocê saberá de graça
Se ela “fê-lo porque qui-lo”.

15
Tenho pena do coitado
Que no banco põe dinheiro:
É guardar frango pelado
Com a raposa do banqueiro.

16
Outrora eu tive “patroa”
E um “amigo fiel”:
Ele mostrou-se à toa
E ela não honrou seu véu.

17
Mas não lhes guardo rancor:
Polindo minha galhada
Encontrei um novo amor,
Meio feia e desdentada.

18
Pois depois da água quente,
Não quis mais gata no cio.
Preferi moça decente
E de quem nem desconfio.

19
Amor, sucesso, dinheiro;
Destes três, só no primeiro
Tu podes confiar
Se dentro em ti, o guardar.

20
Os outros dois, vêm de fora
E ocê não sabe de onde:
É como a moda, o “da hora”,
É comprar passe de bonde.

21
Quando chegar minha hora
Já não irei mais embora
Aqui ficarei porfim,
Quieto, esperando... e FIM

Um comentário:

Dalinha Catunda disse...

Tomara que sua China/ ainda faça pastel? e não tenha aprendido/ a nova dança do Crel.

Olá Guilherme gostei das trovas.
Qualquer hora passo aqui novamente
Dalinha Catunda